A falsa consciência nos movimentos históricos
o caso das jornadas de junho e seus desdobramentos.
Capítulo do livro “O que resta das jornadas de junho”, publicado pela Editora Fi em junho de 2017, ISBN: 978-85-5696-152-5. Se há um ponto claro, pouco controverso ou talvez até mesmo consensual sobre as jornadas de junho, é que elas realmente não foram apenas por “vinte centavos”. As múltiplas, variadas e descentralizadas reivindicações dos mais diversos setores sociais que compuseram este fenômeno, ao invés de esclarecer, parecem, ao contrário, encobrir, dificultar, disfarçar os motivos reais que se acredita estarem por trás daqueles exibidos nos cartazes. A tese de que haveria um sentido mais profundo, velado, subjacente e determinante do que se revelou na superfície das manifestações nos remete a Karl Marx e Sigmund Freud, chamados por Paul Ricoeur de “mestres da suspeita”, ou mestres da “escola da suspeição”1. Para o filósofo francês, o que se pode encontrar de comum nas obras de ambos são procedimentos de desmistificação. Tanto Marx quanto Freud partem de uma suspeita em relação às ilusões da consciência, tomada em sua totalidade como “falsa consciência”, e então empregam o estratagema de tentar decifrá-las. O que pretendemos fazer nas linhas que se seguem vai neste sentido: primeiro tentaremos caracterizar os motivos aparentes das jornadas de junho como mera manifestação de uma falsa consciência e, em seguida, sugerir onde suas reais causas poderiam ser investigadas.